CAPOEIRA ANGOLA
Manifestação primitiva que nasceu da necessidade de libertação de um povo escravizado. A mãe da Capoeira como é denominada e carinhosamente chamada por nós capoeiristas tem como característica principal o jogo malicioso, mandingueiro e perigoso, é jogado em cima e em baixo (contrariando muitos que dizem jogar Capoeira, a Capoeira Angola se joga em pé também, dependendo do toque executado,) é jogada sempre com um sorriso no rosto, com alegria no coração e esperteza na mente, pois quando se percebe, o movimento do outro capoeirista já entrou. Falar da Capoeira Angola também é falar de alguém que fez dela seu motivo de viver, um negro pequenino, meio franzino mas dono de uma Capoeira invejável e de um conhecimento muito abundante, seu nome: Vicente Ferreira Pastinha, Mestre Pastinha.
Na Capoeira Angola a bateria na maioria das vezes é formada por 3 Berimbaus, 2 pandeiros, 1 Atabaque, 1 Agogô e 1 Reco-Reco.
MESTRE PASTINHA
Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 05 de abril de 1889, em Salvador, Bahia. Filho do espanhol José Senhor Pastinha e da negra Raimunda dos Santos. Conta à história que em sua infância Vicente Ferreira Pastinha era um menino franzino e que sempre apanhava de um garoto mais forte quando o encontrava.
Da Janela de uma casa, próximo do local onde os meninos brigavam, um negro chamado Benedito observava, até que um dia cansado de ver Pastinha apanhar o chamou e disse: “Você quer encarar o garoto, mas não pode. Ele é maior e mais vivo que você, por isso o tempo que você gasta empinando raia, vem aqui que eu vou te ensinar uma coisa de muito valia!" Depois de certo tempo de treino com o Mestre Benedito afirmou a Pastinha que já poderia encarar o menino e como de costume cruzou o caminho do garoto e a briga começou, mas este dia Pastinha levou a melhor. Tornaram-se amigos depois do ocorrido. Em 1941, funda o seu "Centro Esportivo de Capoeira Angola", localizado no Largo do Pelourinho, n. º 19. Era lá no casarão 19 que o velho Mestre Pastinha ensinava a Capoeira Angola e apresentava-se aos turistas do mundo inteiro, com seus amigos capoeiristas como: Totonho de Maré, Traíra, Gato, Bilusca, Daniel Noronha, Samuel Querido de Deus, Bugalho, Aberrê, Amorzinho, Sete Mortes, etc., e com seus alunos João Grande e João Pequeno e outros. Pastinha ficou famoso, começou a receber convites para apresentar-se com seu grupo em outros estados.
Um dia chegaram os homens e disseram a Pastinha que iriam começar as reformas do conjunto arquitetônico do Pelourinho, e que ele sairia dali, mas que não se preocupasse que assim que o prédio estivesse reformado ele voltaria para sua academia. Pastinha se foi! Tiraram seu ganha pão e a prefeitura lhe deu uma mesada de Cr$ 300,00 por mês para ele, com mulher e filhos, sobreviver. Seus pertences da academia: bancos, atabaques, refletores, aparelho de som, berimbaus, quadros pintados por ele, retratos de amigos e alunos, etc., ele perdeu. Mandaram que ele colocasse tudo num canto que tomariam conta. Quando ele foi procurar ninguém sabia, e tudo ficou por isso mesmo.
Pastinha foi morar num quarto alugado, na rua Alfredo Brito, 14, ali mesmo no Pelourinho. Um quarto pequeno, sujo, sem janelas, junto a prostitutas e marginais, um verdadeiro cubículo onde não cabia nem o fogão, que ele colocou na porta e é onde D. Nice (sua mulher) prepara o pilão do Mestre. Quando seus amigos lhe disseram que sua academia era hoje o SENAC, e que tinham construído um teatro, um restaurante de comidas típicas e uma arena de apresentação de grupos folclóricos para turistas e que ele o Mestre, não mais teria sua academia, Pastinha caiu em uma depressão sem igual, se mantendo apenas com sua filosofia de vida e sabedoria adquirida por longos anos: "não tenho ambições, não quero nada de mais. O que preciso? Um lugar para ficar, onde possa ganhar algum dinheiro para viver. Trabalhei para muita gente da sociedade, mas dela nada espero; passo com estes quatro vinténs e a ajuda da companheira" - "Meu Santo é forte para resistir às pressões de inimigos, invejosos de título de MESTRE, que a mim não traz valia". Em 13 de novembro de 1981, aos 92 anos de idade, abandonado pelos órgãos públicos e pela maioria de seus alunos, morre Mestre Pastinha, deixando uma enorme perda para a Capoeira Angola.